
Este mundo anda ás avessas e se o vestes toda a gente repara. Não é só nas costuras que deviam estar para dentro, é na etiqueta que vestes. L, que gorda ali vai... Eu bem tento ser magra mas o mundo que vestimos está tão largo e usado como o túnel da gardunha ou aquelas leggins relaxadas de tanto as usares... Este mundo não é o mundo que vês no globo. Qual redondo qual quê? É realmente quadrado, um cubo, o que seja, mas tem os seus cantos onde colocam os que pensam ser restos da sociedade, os que não se parecem tanto com o ideal das revistas, ou bonecos fofos e idolatrados. Precisas de te despir do mundo e aí ainda te olham mais, para as imperfeições e para a tua irreverência. Toda a gente peca mas aos olhos dos outros deveríamos calçar bíblias. Grão a grão enche a galinha o papo mas só para os que têm cunhas, feitas de ouro, e as calçam à nascença para serem autorizados nas entradas do emprego. Porque o grão que actualmente comemos não chega a encher, antes de acontecer tal coisa já o estão a mandar cagar! Desculpem a linguagem, mas não há língua que humedeça este mundo. Eu bem tento alimentar esperanças mas elas passam da validade e estão contaminadas logo após de se produzirem. Qualidade individual, mas o mundo está cheio de inconformidades...Onde estão as regras? Não existem, cada um as faz, cada um desenha a sua própria perfeição. Há os que apanham tudo o que puderem sem olhar a meios, os que dão tudo o que tiverem sem pensar em rodeios. Amor, acho que só ocorre uma vez na vida. É aquele momento em que dizem que estar a subir nela, e com sorte encontras elevador. Outros com esforço escalam uma montanha. E só com sorte tens alguém para te receber lá em cima, uma uma porta aberta, porque hoje em dia viram-te as costas logo no primeiro degrau. E continuamos a tentar subir, e continuamos a cair. Todo o material acompanha o invisível. Tal como quando estás no charco molhado e sujo, podem passar por ti e sentir pena ou indiferença, até nas urgências já imitam a rua numa maca. Já foi o tempo em que era real e verdadeiro dizer "o que importa é ter saúde". Hoje o que importa é ter um mundo que te sirva e possas comprar.
Clara Godinho