Soavam as horas. Horas
x. A noite soprava aquela brisa de verão que apesar de pedir casaco, convida
também a longas conversas na varanda, a observar o céu estrelado e limpo nas
redondezas de uma aldeia. Isto para os mais velhos. Aquela menina de 9 anos,
estava habituada a ver a novela junto da avó e adormecer no seu quarto decorado
de colagens. Estranho como as suas ideias eram sem dúvida espectaculares para
ouvir um sermão. Fazia desenhos de tudo o que gostava, recortava e colava na
parede com cola e não com fita. Posso dizer que ainda hoje o papel e a cola não
saíram completamente. Deitou-se na cama de colcha aos ursos abraçados. Fechou a
porta esmurrada...tanta história tem aquela porta! Ninguém sabe que o buraco
foi feito por uma mão de um homem enraivecido. Ela sabia, mas como criança, a
inocência levava a colocar o amor acima de todos os disparates que não iria
NUNCA de maneira alguma imitar aos adultos. Rezou a oração do anjo da guarda:
"Anjinho
da guarda
minha
companhia
guardai
a minha alma
de
noite e de dia"
E adormeceu. Partiu para o seu mundo feito de
sonhos, emoções, cores e canções. Não vos posso garantir que o sonho era mesmo
com este arco-íris todo, as noites apesar de demorarem longas horas parecem
passar como a luz de um relâmpago aos nossos olhos. No curto intervalo de tempo
que dormia, sei que estava a sonhar. Não havia noite que não tivesse sonho bom
ou pesadelo, por mais sem sentido que fosse. Mas algo a perturbou, uma frase:
"Filha
acorda. Vamos embora"
E um misto de choros e
gritos, passaram diante dos olhos da menina. O irmão mais novo adormecido nem
sequer acordava de tão pesados que eram os sonhos. Mas ela via o escuro, o colo
do pai, lágrimas, súplicas, e despedidas. E só ficou marcada uma luz nos seus
olhos antes de fechar a porta daquela casa antes de partir para a nova vida:
Três
da manhã.
E ainda hoje acordo com medo que a escuridão
me rapte outra vez para uma outra vida. A esta hora que marcada ficou nos meus
olhos de criança.
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